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sábado, 23 de outubro de 2010

Ricardo Molina, aquele que o JN chamou pra ajudar o Serra, nem perito é..

Perito que deu laudo favorável a Zuleido e Sarney trabalha a soldo de acusados

Laudos por encomenda

Desrespeito sistemático de Ricardo Molina ao trabalho dos peritos oficiais já provocou reações iradas da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais 


POR OSWALDO VIVIANI

O clã Sarney e o famigerado empreiteiro Zuleido Veras, dono da Gautama (investigado na Operação Navalha por fraudes em licitações de obras públicas), não poderiam ter encontrado pessoa pior do que o perito Ricardo Molina de Figueiredo para tentar desqualificar um trecho das gravações da Polícia Federal que comprova o envolvimento do senador José Sarney com Zuleido.

Num dos diálogos, “grampeados” com autorização judicial, Zuleido diz “Vou chegar na casa do Sarney, já, já”. Molina registrou em laudo que a voz não é de Zuleido, apesar de o restante da gravação comprovar translucidamente o contrário. A revista IstoÉ desta semana publicou reportagem sobre o laudo, que foi destaque, também, na edição de domingo do jornal da família Sarney no Maranhão.      

Esse laudos “do contra” – quase todos encomendados –  fazem parte do histórico de Ricardo Molina. O perito se notabilizou por realizar laudos solicitados por delinqüentes endinheirados, sempre concluindo a favor deles e contra a perícia oficial, da PF.

“Bandido que tem uma boa condição financeira contrata logo o perito Ricardo Molina. O resultado é sempre o mesmo: a polícia, despreparada e precipitada, não soube trabalhar direitinho”, afirmou um perito da Polícia Federal em seu blog.
Ricardo Molina: deboche e desrespeito aos peritos oficiais
Entre os ex-clientes de Ricardo Molina, está o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, presos desde maio de 2008 sob a acusação de assassinato da menina Isabella, filha de Alexandre, ocorrido em março de 2008. Depois de concluir seu laudo livrando o casal, sem qualquer base científica, da responsabilidade em relação à queda da criança do 6º andar de um prédio em São Paulo, Molina deu declarações debochadas à imprensa sobre o trabalho dos peritos oficiais da polícia. “Os peritos do caso Isabella estão igual cachorro correndo atrás do próprio rabo”, afirmou.

Recentemente, foi o megaembusteiro Daniel Dantas – condenado pelo juiz Fausto de Sanctis a dez anos de prisão por corrupção ativa – que recorreu ao miraculoso perito Molina. Em um prazo ínfimo (como no caso de Zuleido Veras), o perito afirmou “taxativamente”, sem apoiar-se em nenhum argumento técnico de peso, que não era de Humberto Braz, fiel escudeiro de Daniel Dantas, a voz ouvida numa gravação, na qual Braz tentava subornar o delegado da Polícia Federal, Victor Hugo Ferreira.

O desrespeito sistemático de Ricardo Molina ao trabalho dos peritos oficiais já provocou reações iradas da principal entidade de classe dos profissionais – a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF).

Em meados do ano passado, depois de uma entrevista de Molina à revista Consultor Jurídico, na qual ele mais uma vez quis desqualificar o trabalho dos peritos oficiais (sempre invalidado, segundo Molina, por “falhas técnicas” e até “fraudes”), o presidente da APCF, Octavio Brandão Caldas Netto, disse: “As afirmações de Molina não encontram embasamento, algo que é inaceitável para quem se apresenta como especialista em áreas que demandam conhecimento bastante específico”.

A entidade teceu, ainda, os seguintes comentários – entre outros – sobre Ricardo Molina:

1. O sr. Ricardo Molina não é perito oficial. É apenas auxiliar técnico do acusado, contratado por este. Sem entrar especificamente na questão da integridade dele ou de qualquer outro assistente técnico, é muito mais confiável, e a sociedade entendeu assim, ao criar a figura do perito oficial no CPP, um corpo de funcionários públicos, pagos pelo contribuinte, para analisar o corpo de delito e elaborar o respectivo laudo oficial. A ação independente da perícia oficial não tende nem para a acusação, nem para a defesa, mas busca apenas ser fiel à verdade factual. Já o auxiliar técnico contratado é pago pelo acusado. Essa situação, no mínimo, fragiliza a isenção dos auxiliares.

2. Do mesmo modo que Ricardo Molina desafia a perícia da PF a detectar edições em arquivos por ele manipulados, o desafiamos a provar cientificamente que houve uma única edição fraudulenta em qualquer arquivo de áudio fruto de interceptação telefônica da PF.

3. O sr. Ricardo Molina é músico e, ao que nos consta, não tem formação técnica para afirmar o que ele divulga a respeito de sistemas de telecomunicações. Talvez seja esse o motivo pelo qual muitos de seus quesitos técnicos tenham sido incoerentes. Questionamentos fundamentados são importantes para o esclarecimento de pontos que porventura suscitem dúvidas; porém, antes de dizer inverdades, quem realiza o questionamento referente à análise do corpo de delito deve estudar o assunto e respeitar os profissionais isentos do Estado que elaboram os laudos. Os peritos oficiais não recebem honorários do acusado, nem deixarão de perceber seus salários se as conclusões de seus laudos demonstrarem que os vestígios apresentados à perícia não são suficientes para uma prova material robusta.

Ricardo Molina, atualmente com 52 anos, sempre preferiu trabalhar em casos de repercussão nacional – que lhe garantem os holofotes da mídia, segundo seus críticos –, como a morte do empresário Paulo César Farias, o PC; a Chacina de Eldorado dos Carajás; o crime da Favela Naval e o acidente que matou os integrantes da banda Mamonas Assassinas.

Em 2001, ele foi demitido da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), por supostas “irregularidades administrativas”, entre elas, uso indevido de verba pública.
Jornal Pequeno - Capa da Edição 23,050

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